Minha avó sempre dizia: "Mulher para ficar bonita, tem que sofrer".
Ela se referia, é claro, aos longos cabelos que usávamos naquela época, e ao rosto limpinho, sem nenhum cosmético, que era sua marca registrada.
Para manter o cabelo alinhado e a pele branquinha, eram necessários muitos cuidados: muitas escovadelas à noite, ao deitar e prender bem puxado, pela manhã, ao acordar; nada de sol, para não manchar a pele delicada e sem manchas. Ela considerava tantos cuidados, um sofrimento!
Eu era criança e minha avó era quem penteava os meus cabelos. Até os 12 anos eu tinha cabelos que iam até a minha cintura. Muito finos e muito longos, eu os usava em tranças. Quando ficavam soltos, eu gritava feito louca se alguém tentava desembaraçá-los. Só ela conseguia a façanha de deixá-los arrumados, quando eu ia para a escola.
Quanto à pele, ela nunca conseguiu me manter longe do sol. Desde pequena eu gostava de me estirar como lagartixa em cima da pedra. Quanto mais quente, melhor. Também, nem adiantaria. Herdei da minha mãe essa cor que não desbota. Não sou branca, nem preta...
Mas, lembrei-me disso em razão das repetidas vezes que falo sobre dores. Naquele tempo, a dor que eu conhecia era a do cabelo puxado pela escova da minha avó. Hoje até sinto saudades.
Eram bem mais suaves que as que sinto hoje, e mais interessantes, porque eu acreditava que se sentisse bastante dor, ficaria mais bonita. Coisas da minha avó! Qualquer dia falo mais sobre ela. Bjks. Neli Alves